terça-feira, 10 de maio de 2011

O falso “moralismo” da classe média

A Classe média prega a justiça social - mas se acovarda para ir em uma passeata de uma classe que não a sua, ou para lutar pelo patrimônio público, ou participar de uma greve, por medo de perder o emprego; não luta pelos direitos coletivos; defende e imita os costumes das classes mais abastadas; prefere assistir futebol, a ir numa reunião das associações de moradores; assistir a um filme a ir a uma reunião de condomínio;

A Classe média diz que defende a paz – mas se cala diante da guerra; permite que os mais humildes sejam massacrados; critica quem protesta (chama de baderneiro); defende com unhas e dentes a ordem estabelecida até que esta ordem não o defenda em seus direitos mais elementares; se omite diante da injustiça por covardia;

A classe média fala em honestidade – mas corrompe o guarda de trânsito numa blitz; quando pode sonega impostos “porque todo mundo faz”; joga lixo na rua; não devolve o troco enganado do caixa; “diminui” a quilometragem do carro para vendê-lo; troca o voto não por necessidade como fazem as classes menos favorecidas ou os ricos para perpetuarem seus direitos, mas por um favorzinho, uma ajudinha para o parente, uma lombada na sua rua, um vestido de debutante;

A classe média fala em cidadania – mas não vai assistir a uma sessão na Câmara; não participa dos movimentos sociais; não se organiza como classe; defende a ditadura; não faz parte de nenhum partido e se fizer não entra para mudá-lo mas para aceitar as regras do jogo com o fim de se beneficiar dele para seus propósitos;

A classe média fala em religiosidade – mas não engaja em projetos de assistência social; critica as religiões a que não pertence e a que pertence também; acha que a sua religião é a única que esta certa; julga os outros pelos valores morais religiosos sem entender as razões sociais e pessoais de alguma miséria humana;

A classe média se diz esclarecida – mas baseia seus comentários políticos e interpreta o mundo pelos telejornais que assiste sem critérios; acredita que a imprensa não é corrupta como as demais instituições; não procura canais de informação alternativos; não emite sua opinião por medo; não lê mais de um livro por ano e se lê, lê autores medíocres da moda e estrangeiros;

A classe média se indigna diante da violência – mas parte para briga numa discussão de trânsito, jogo de futebol ou discussão de bar: oprime a família e os filhos porque não lhes dá atenção ou é patriarcal; menospreza e ridiculariza seus colegas de trabalho; tem preconceitos de raça; é contra os direitos das minorias; é contra a liberdade de opção sexual; não é capaz de defender com as próprias mãos uma pessoa indefesa; jamais vai para a luta por mais que seja pisado;

A classe média diz que defende seu país – mas se pode não deixa seus filhos na escola pública; mora em condomínios com nomes estrangeiros porque é chique; sempre que pode é pedante utilizando expressões de outros idiomas; gosta dos noticiários de celebridades; lê Caras; Manda seus filhos pra Disney e não para a Amazônia; ouve só música estrangeira; menospreza a cultura de seu país e idolatra os valores se outras nações mesmo sem compreendê-las. Seu país sempre é o pior do mundo, não vê qualidades nele; Não admira seu povo e não conhece os valores de sua cultura;

A classe média julga, mas nunca aceita ser julgada. E por ser tão amorfa, passiva, omissa, influenciável, sem opinião, sem capacidade de lutar, de se indignar, de realizar qualquer ato extremo em defesa de sua honra, que é justamente esta classe que os governos mais exploram economicamente. É a classe média que mais paga impostos para os mais ricos, e também para subsidiar o populismo do governo com os mais pobres, estes sim que vão para as ruas protestar e exigir seus direitos. A Classe Média tem lá os seus movimentos, mas limitados pela incompreensão do todo, pelo seu julgamento de valor mediano, por ser incapaz de ir até o fim em suas reivindicações, por se esconderem atrás de abaixo-assinados e pseudônimos na internet, mas nunca, nunca mesmo, baterem de frente com o sistema quando o sistema não mais representa os direitos da maioria. A Classe Média é a grande maioria no país, mas só cuida do seu “umbigo” e por isso o país está como está. A população mais humilde,tem a falta de cultura como álibe. Os ricos defendem os seus privilégios, mas a classe média por se julgar superior, é a mais hipócrita. Por isso Marx, em sua sabedoria sociológica, afirmou que não será a Classe Média que fará qualquer revolução ou qualquer mudança mais profunda nos sistemas de governo.

Enfim, a Classe Média é título da música de Max Gonzaga que conseguiu resumi-la muito bem.

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