quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pouco elegante, vereador Wilson Andrade pede votos para o irmão em inauguração da nova Câmara de Campo Largo

Pedir voto tem hora e lugar e deve-se ao menos ter a elegância suficiente para não tornar explícita a cobiça eleitoral em determinadas ocasiões: enterros, solenidades coletivas e religiosas, etc, não são exatamente o local aonde alguém deve escancarar seus interesses políticos pessoais. O governador em exercício do Paraná, Orlando Pessuti, no alto de um cargo que lhe permitia ir até mesmo além do que qualquer vereador, foi enfático, mas limitou-se, em seu discurso, a elencar as inúmeras obras do governo para Campo Largo e todo o Paraná. Se houve insinuações sobre a sua possível candidatura ao governo, esta passou pela boca dos seus admiradores, agradecidos pelo empenho do governo do Estado em prol de Campo Largo. Pessuti mostrou serviço e sabe, com sua experiência, a tênue linha que separa o discurso político da completa deselegância. É melhor ouvir elogios da boca dos outros.

Nelsão, por sua vez, enalteceu a contribuição de todos e também do prefeito Edson Basso que cedeu o terreno que possibilitou a construção da obra, afirmando que "o povo merece ter um local aonde possa ser bem acomodado". Ao seu estilo também não deixou de lembrar dos menos favorecidos, aproveitando a oportunidade para solicitar, mesmo reconhecendo as dificuldades encontradas pela administração municipal em virtude das chuvas excessivas, das crianças que precisam ir às escolas, pedindo medidas de urgência para a melhoria da infraestrutura das ruas em estado mais crítico: "Sei que talvez não seja o momento oportuno, mas não posso deixar de lembrar, quando inauguramos um local tão acolhedor como este, que nossas crianças precisam ir à escola", disse. Os demais representantes parlamentares também souberam distinguir o ato público de um palanque eleitoral propriamente dito. Apesar de ser implícita a vertente política de cada um, mantiveram-se ao nível da cordialidade que o ato exigia. O Vereador Wilson Andrade, no entanto, causou constrangimento a todos, quando subiu ao púlpito, diante da platéia, para falar unicamente da necessidade de Campo Largo ter seu representante no Legislativo Estadual, ou seja, o seu próprio irmão, numa misto de nepotismo e campanha eleitoral: "Precisamos de um projeto único", disse e insistiu durante todo seu discurso, ao ponto de se tornar enfadonho. Riram-se o governador e autoridades, com a insistência veemente e pouco elegante do vereador, que pareceu não estar nem aí com a multiplicidade de representantes políticos e personalidades públicas ali presentes, além dos próprios cidadãos, que por certo não foram ali para ouvir alguém falar de projetos pessoais de familiares. Falta de tato e vivência politica, além de um desespero natural de quem teme ver ir para o ralo seus projetos eleitorais diante das primeiras pesquisas.
O deputado Luís Eduardo Cheida, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia e convidado de Nelsão para a solenidade, também pré-candidato a uma vaga no Legislativo, demonstrou cultura e preparo, quando comparou o plenário da Câmara a uma espécie de "cinema", aonde "se fala das coisas passadas, do momento presente e projeta-se o futuro com a elaboração das leis". Mas não abriu a boca pra pedir votos para si mesmo, muito menos para algum parente. Apesar de ambos, Nelsão e Cheida, terem pretensão de disputar o legislativo estadual, mostraram que a convivência partidária deve estar acima dos interesses pessoais, num exemplo de companheirismo e solidariedade raramente vistos nos arraiais políticos aonde o "vale tudo" para chegar ao poder muitas vezes passa por cima de amizades, circunstâncias sociais e até do respeito mútuo.
Nos bastidores, pmdebistas ligados ao governo estadual comentaram a "gafe" de Wilson Andrade e reforçaram a tese de que, através do apoio maciço da administração, já declarado pelo Prefeito, conforme matérias publicadas em jornais locais, a somente um deputado estadual de outra sigla que não estaria comprometida com a eleição de um governador pmdebista, significaria um problema grave: "O PSB do Paraná não vai se aliar com o PMDB, e o apoio ostensivo e declarado a uma candidatura de fora do partido, lança dúvidas sobre a construção de um robusto palanque eleitoral paralelo em Campo Largo para as forças adversárias. Alguém vai estar traindo alguém e política não se faz com traição", afirmou um representante de alto coturno do PMDB presente na solenidade.
Citado por Pessuti durante seu discurso, o vereador Nelsão foi o único vereador, além do presidente Sérgio Schmitd, que recebeu a visita pessoal do governador em exercício do Paraná ao seu gabinete, numa demonstração inequívoca de consideração ao seu trabalho desenvolvido no Legislativo campolarguense. O governador em exercício também ressaltou a parceria estratégica do governo do Paraná com o município de Campo Largo, através da administração de Edson Basso.
Durante o coktail servido após a sessão solene, políticos ligados a outras siglas do município comentaram à boca pequena sobre um suposta temeridade, de alguns representantes do PMDB de Campo Largo, com relação a pré-candidatura de Nelsão ao Legislativo e, por este motivo, tentarem negar-lhe direito à sigla para a disputa ao pleito eleitoral. Nelsão argumentou que não acredita nesta hipótese, pois ela comprovaria a subserviência da adminstração municipal a outros interesses que não os do PMDB, que necessita do maior número de votos possíveis para fazer a legenda do Partido e eleger o máximo de representantes estaduais e federais. No entanto, Nelsão afirmou estar preparado para a resistência: " Em política não podemos ser ingênuos. Durante nosso mandato, nos preparamos para enfrentar até mesmo judicialmente esta possibilidade. Não seremos pegos de surpresa por interesses alheios aos do PMDB". Vereador mais votado do Município e representante de um das mais importantes centrais sindicais do Paraná, Nelsão durante seu mandato votou matérias essenciais para que a administração pmdemista desse prosseguimento as obras do município, mesmo discordando de alguns projetos que no entender do mandato não representavam os interesses coletivos. A equipe de Nelsão documentou sua atuação parlamentar através de gravações dentro e fora da Câmara, além de reunir documentos para sua defesa em uma virtual "virada de mesa". Quem conta com a hipótese da retaliação como forma de inibir sua pré-candidatura vai dar com os burros n'água, além de pagar um preço político considerável e irreversível: "Tudo tem sua hora e acreditamos no bom senso. Mas se precisar, não vamos bancar os cordeirinhos, temos como reagir e de forma incisiva. Vão ter uma bela surpresa, e já demos provas disso no transcorrer de nosso mandato", revelou a um correligionário.

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