terça-feira, 15 de dezembro de 2009

UM ANO DE CICATRIZES, VITÓRIAS E FLORES



Parece ontem, ouvimos Walter Benjamin falar das marcas do tempo na pessoa amiga, como sinais de uma beleza que só a história vivida juntos permite ver. Sim, estas cicatrizes não são só tuas, mas nossas. Hoje o compreendemos melhor do que o compreendíamos quando jovens.
Olhamos assim nossos amigos e amigas, colaboradores do mandato. Senivaldo, do Norte Velho, que queria trocar o mundo por uma mula, e não havia quem o tirasse do sítio. Vai tentar comprar o cara para ver o que você leva. Militante de colocar a mão no vespeiro. O He-man, que vai lá com o seu uniforme do coxa, correndo atrás da burocracia. Nunca levantou a voz, ao seu estilo, escalado que era para missões impossíveis como exigir os prazos e apresentar requerimentos. Mas não se preocupem, não tem o mínimo perigo de virar um burocrata. E o “Nersão”, chegando de sandálias no parlamento, caboclo de pescoço duro, tropeçando às vezes no português, nunca nos ideais. O Guimarães, segurando a máquina na trincheira, registrando como um Cartier-Bresson, cada batalha para a posteridade. Construiu, ao seu modo, um diário paralelo das sessões, uma ata das entranhas, das contradições e da resistência. Isto porque, desde o início, nós nunca acreditamos que o Parlamento de fato revelaria os seus próprios defeitos. Ao contrário, tentaria escondê-los do povo, justamente daqueles que os escolheram para representá-lo.
Revezando-se na linha de frente: o Xixo, o Viana, o Arquimedes, o Coisinha, Leno, a Neide, a Fernanda, o Pedreiro...e tantos outros e outras...
Sim, nós sempre tivemos o senso de responsabilidade de que atrás de nós estava toda uma ramificação, como alvéolos e veias de um corpo construído de fibra e luta, o povo: o Banguela, o Acássio, o Preto, a Nena, o Jorjão, a Deca, o Romildo, o Rodrigues, o seu Zé Eletrocer, o Claudiomiro, Seo Alagoas, Seo Barbosa ...e os amigos e amigas desculpem, mas são tantos "seos" que não se pode contar e pedimos perdão por não conseguir enumerá-los. Mas temos certeza, nenhum e nenhuma, dados a arte da bajulação. Não nos pediram cargos. Não nos pediram títulos de cidadãos honorários. Pediram apenas que fossemos o que sempre havíamos sido...
Ontem, quando o placar da Câmara iluminou-se, contabilizamos mais uma derrota. Eles nos venceram novamente. Mas, nós, ao contrário do que muitos possam imaginar, estávamos felizes. Enfrentamos, durante todo o ano, com brio e coragem, em nome daqueles pelos quais fomos chamados a representar ( gente simples, não grupos econômicos): a situação, a oposição, os jornais, o regimento, a tropa, o pelotão, o advogado, o meirinho, o juiz e o doutor. E ainda nos dizem que estamos isolados. Como assim? Não entendemos o que querem dizer, pois ao sairmos nas ruas, nos cumprimentam, nos elogiam, nos chamam, nos convidam, nos admiram. Isolados, estão eles, tão longe do povo que dizem representar.
Mas também aprendemos a respeitar os nossos adversários, ou pelo menos aqueles que se dão ao respeito. Sabemos que existe muita gente boa do outro lado da trincheira. Não achamos que somos os melhores. Mas ontem, ontem minha gente, como se fosse a primeira sessão do ano, nós estávamos lá, novamente, resistindo, brigando, lutando pelo que achamos certo, e podemos dizer com orgulho a todos que em nós confiaram: não traímos uma só vez nossos ideais!
Perdemos alguns, claro, que esperavam de nós a submissão ao primeiro tiro. Aqueles que se acovardaram diante do desafio de ser quem somos. Mas ser o que somos não é para qualquer um mesmo. Não se culpem por nos traírem. Porque nós também não nos culpamos por não podermos transferir para vocês a grandeza do sentimento que nos carrega: o de ser quem somos em nome daquilo que acreditamos e daqueles que representamos.
Esses dias nos chamaram de plebiscitários, coletivistas, censitaristas, chavistas, socialistas ou o que queiram chamar. E se querem saber, sim, somos daqueles que querem ouvir o povo e cada um. Como nas assembléias, queremos que levantem a mão, que digam que nos apóiam. Que expressem da forma mais evidente sua aprovação ou desaprovação. Não nos escondemos, como alguns o fazem, do povo. Mas aprendemos que a democracia é também a defesa das minorias e daqueles que muitas vezes não tem voz. Sabemos que nem sempre a maioria tem razão. Êita democracia complicada, que nos põe muitas vezes em lado contrários. E dizem, os caricatos: ninguém vai mais às sessões, culpa de vocês! Que pena, estragamos o jardim aonde os gordos cordeirinhos pastavam e engordavam mansamente dizendo amém para tudo. Ah! gente, nos desculpem, mas a vida se faz de contrários, de postura, de firmeza, de caráter, de trabalho e não de mediocridade e omissão. Não de se construir imagens paga com dinheiro público, de engodo, de caricatura. E qualquer paz, longe disso, é uma paz enganosa. E com isso não queremos dizer que o “Nersão “ , muitas vezes, não fala demais. Ah, fala! E quer saber o quê: vai falar a vida inteira. O companheiro é assim mesmo: queixo-duro! E nós aprendemos a respeitá-lo por isso. E mais: o grande momento da vida de um líder, nem se dá no parlamento. Dá-se ali, no meio do povo, que também tem as nossas mesmas cicatrizes: como o dia em que fomos em frente ao Fórum defender as famílias que a imobiliária quer expulsar de suas casas. Ali, sim, como em outros momentos de defesa dos mais simples, se conheceu o parlamentar que deixou cair suas lágrimas, como retirante que foi, bóia-fria, servente, pedreiro, sindicalista, lutador, também cicatriz, como eles e nós. E como não perdoar-lhe os erros? Os excessos? E tem mais: se alguém tem que dizer a hora que ele tem que ficar calado, não são vocês que o traíram, mas nós, do povo, que o elegemos. Porque a nós, ele não traiu, e porque a nós, ele respeita.
Então, só nos resta agradecer, a Deus, a vocês e aos colaboradores internos e externos do mandato, deputados, ex-deputados e deputadas, professores, técnicos, secretários, e figuras públicas.
Obrigado, principalmente, ao campolarguenses, por terem nos dado, com todas as nossas limitações, a oportunidade de ser simplesmente o que fomos durante todo este ano: cicatrizes, vitorias e flores!

Coletivo Vereador Nelsão

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