quarta-feira, 25 de maio de 2011

Editorial: Pela independência dos movimentos sociais

Temos acompanhado com satisfação a criação do movimento Muda Campo Largo da iniciativa dos jovens e cidadãos campolarguenses. O elogio, no entanto, não significa atrelamento. A ausência de referências da iniciativa do movimento Muda Campo Largo de muitos temas relevantes que poderíamos abordar neste blog, manifestando apoio – como, por exemplo, entre outros, a melhor utilização dos espaços culturais e uma programação efetiva (e com recursos e democracia, óbvio) para difundir a cultura de nosso município - é resultado da concepção do mandato de que o aparato político não deve tentar “cooptar”, "roubar as bandeiras", ou manipular lideranças dos movimentos sociais com objetivos politiqueiros. Optamos por não tentar, mesmo de forma anônima, como muitos fazem, interferir em um movimento que partiu da sociedade civil organizada. Desta forma, podemos apoiar as iniciativas que nos parecem ancoradas nos legítimos anseios da população e coincidem com os princípios do mandato, sem fazer alarde e evitando que nos apropriarmos indevidamente do que não é nosso. Ou seja, acreditamos na independência do movimento. Podemos, desta forma, também criticar o que não nos parece adequado, mas jamais procurar a aproximação por interesse meramente político. Aprendemos isto pela recente experiência de partidos que tinham um amplo leque de debate junto aos movimentos sociais, e que após ascenderem ao poder, anularam a capacidade de critica, cooptando as lideranças com cargos e benesses, promovendo uma verdadeira desmobilização da sociedade civil organizada que resultou nesta pasmaceira que o país está vivento onde ninguém questiona nada, apesar dos absurdos que ocorrem.
Defendemos o diálogo com as iniciativas populares, mas antes de tudo, a independência dos movimentos sociais. Isto, evidentemente, não impede que militantes que desejem atuar em outros espaços como partidos políticos também exerçam sua militância junto aos movimentos sociais, mas é preciso deixar claro o que é militância política-partidária, do que é a independência dos movimentos sociais. São processos distintos. O período de maturação dos movimentos sociais é longo, já que partimos de uma sociedade “anestesiada”, iludida muitas vezes pela “publicidade oficial”, desmobilizada e desacreditada em qualquer forma de luta. A interferência na organização dos movimentos sociais pelos interesses políticos imediatos, mostrou-se desastrosa ao longo da história de nosso país. Cidadãos conscientes podem optar pelas suas correntes políticas e pela militância nos movimentos sociais, mas a independência como um todo dos movimentos sociais é reflexo do amadurecimento da sociedade: não importa quem esteja no poder, é de suma importância que existam núcleos de pessoas que mantenham sua capacidade crítica além das conveniências políticas, concordemos ou não com elas. E por isso, em atitude de respeito ao movimento, nos reservamos ao direito de rebatermos as críticas quando achamos indevidas, e apoiar, mesmo que não explicitamente, sem fazer referência para não nos aproveitarmos oportunisticamente de suas bandeiras, ou de suas iniciativas. Devemos ser maduros politicamente para entendermos que estamos sujeitos a criticas, muitas delas consistentes. Isto nos ajuda a aprimorar nosso mandato e realizarmos nossa auto crítica. E o movimento também está sujeito a críticas no sentido de que possamos oferecer-lhes outras perspectivas de compreensão da realidade social. E só se consegue isto, mantendo a independência. E damos um exemplo: organizar a sociedade em torno de uma questão de infraestrutura como os buracos das ruas da cidade é uma iniciativa válida, mas insuficiente. Seria mais importante o asfalto ou a creche? O asfalto ou a escola? Do ponto de vista do cidadão de classe média, o que utiliza o automóvel para tudo, o asfalto é uma prioridade imediata e consequentemente aquela que mais rende dividendos políticos, tanto é que, nos anos finais das diversas administrações promove-se o famoso “canteiro de obras”, e ai todo mundo esquece o resto. Coloca o asfalto e pronto. Pode ficar sem creche, sem escola, sem um sistema de saúde digno...mas todo mundo está satisfeito, afinal o asfalto esta uma beleza. Ao centralizar esta questão, o movimento fortalece uma visão imediatista e parcial de uma realidade social perversa. Mas o entendimento poderia ser outro: ainda que houvesse o “sacrifício” momentâneo do asfalto, seria legítimo optar por um sistema de educação, cultura, saúde, transporte público etc, de excelência, que pudesse oferecer perspectivas a longo prazo de evolução social, ao invés de uma demanda imediatista, ainda que legítima, da classe média ou do cidadão comum. O pior mesmo é ficar sem uma opção nem outra.

Infelizmente, devido ao modelo econômico de nosso país (que contingência brutalmente os recursos dos municípios) somado à falta de visão, perda de recursos por incompetência, corrupção e falta de profissionalismo de nossas administrações estaduais ou municipais, muitas vezes somos obrigados a escolher entre uma coisa e outra, e isto não vai mudar de uma hora para a outra por mais que a gente queira. E por pior que seja, é melhor andar em ruas com buracos do que deixar uma criança morrer sem atendimento num posto de saúde. E é este dilema que muitas vezes bate a porta dos parlamentares: os votos ou o planejamento? Os votos ou o que é realmente essencial? E não é a toa que as pessoas se mobilizem com mais facilidade diante de um problema como a pavimentação do que para exigir, por exemplo, mais vagas para as creches ou a melhoria do sistema de ensino. Ao elencar a demanda como prioritária, esquece-se de que seria importante debater simultaneamente um sistema de transporte público de qualidade, e não o transporte baseado exclusivamente no individualismo do sistema automotivo, que gera poluição, acidentes, etc. E qual tipo de asfalto se está falando ? Um que impermeabiliza toda a cidade, sem deixar vazão para a absorção da água? Ou outra solução tecnológica inovadora que permita uma melhor solução do ponto de vista ambiental, como já existe em alguns países europeus? Custa caro? Custa, mas seria o preço a ser pago mesmo que à longo prazo. Não deveríamos debater veículos leves sobre trilhos (VLT), cujo custo ambiental é muito menor, menos oneroso à longo prazo e com maiores resultados para o transporte de massa, independente do asfalto? Mas este debate parece distante de uma sociedade que pensa só no imediato.
Este é apenas um exemplo de que, com independência e diálogo com os movimentos sociais, sem nunca se considerar como o único dono da razão, poderíamos construir, de forma democrática, alternativas que levassem em conta os vários aspectos de uma administração realmente voltada para o que é mais importante para o nosso município, sem, no entanto, desabonarmos a iniciativa de cidadãos que realmente estão interessados no desenvolvimento de nossa cidade e políticos que se alinham nesta mesma perspectiva, cada qual a seu modo. É um a engano achar que o mandato do vereador Nelsão é somente dele. Um mandato só tem sentido se carregar o peso da representatividade de um coletivo que muitas vezes até se opõe a uma visão imediatista. Que quer debater, discutir, ouvir a comunidade. Ou seja, não só o Nelsão, como representante eleito, mas todos aqueles que pretendem debater com profunidade a cidade e apresentar propostas. O vereador é apenas um elo desta corrente. Por mais que não tenha lá o seu português de nível superior...isso não é o mais importante. O importante é saber ouvir e apoiar as iniciativas realmente importantes.

Coletivo do Mandato do Vereador Nelsão

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