segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Da série: os amigos do Beto Richa e do Jaime Lerner

Para Cassio Taniguchi, governador Arruda é um “santo”
20 de Dezembro de 2009


Cassio: “Arruda foi vítima de chantagem”.
Ex-secretário de Desenvol­­­vi­­­mento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal, Cassio Ta­­­­niguchi (DEM) acredita que o governador José Roberto Arruda “foi vítima de chantagem” no escândalo de corrupção que atinge Brasília há três semanas. O ex-prefeito de Curitiba também diz que Arruda não teve tempo suficiente para se defender no processo de expulsão movido pelo Democratas.

Ele elogia a gestão do colega e afirma torcer para que o governador consiga terminar o mandato. “É uma situação grave. Porém, as coisas têm que ser colocadas nos seus devidos lugares. Ele (Arruda) foi vítima de uma chantagem e, consequentemente, sofre os seus efeitos.”

Taniguchi estava prestes a completar três anos no governo, mas decidiu deixar o cargo e retornou à Câmara dos Deputados na terça-feira passada. Um dia depois, concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Povo no gabinete em que voltou a trabalhar na Casa. A reportagem é de André Gonçalves, correspondente do jornal em Brasília.
O parlamentar não é citado no inquérito da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que investiga o pagamento de propina para partidos da base aliada. Também não aparece em nenhum dos vídeos feitos pelo ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, Durval Barbosa, principal fonte do processo.

Taniguchi ressalta que não teve participação na indicação do paranaense Paulo Henrique Barreto Munhoz da Rocha para a diretoria da autarquia Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). Munhoz da Rocha, que trabalhou na gestão do ex-prefeito em Curitiba, aparece em um vídeo supostamente recebendo R$ 20 mil de propina de Barbosa.

Como o senhor pretende conduzir a carreira política como deputado federal a partir de agora?

A minha carreira aqui, como a de qualquer deputado federal, seguirá a linha de defender os interesses do estado. E, obviamente, de buscar alguma proposta que possa beneficiar o país como um todo, como é o caso do Projeto de Lei 34/2007, que eu apresentei. Ele cria incentivos e estímulos de várias naturezas para que as cidades busquem a sustentabilidade, com atenuação da emissão de gases de efeito estufa, a economia dos recursos naturais. Enfim, tudo aquilo que se discute hoje em dia. O projeto foi aprovado na Câmara, sofreu uma emenda no Senado e voltou para a Câmara. Já passou de novo pela Comissão de Meio Ambiente e agora vai à Comissão de Desen­­­volvimento Urbano.

Como o senhor foi apanhado em relação à crise de corrupção no governo do Distrito Federal?

Olha, essa é uma questão que agora entra nos aspectos político e jurídico. Politicamente, o governador se desfilia do DEM e segue o curso normal. Acredito que ele vá fazer um excelente governo, na medida em que mais de duas mil obras estarão sendo entregues à população como um todo. Eu acredito até que as pessoas estão com uma certa pena, pensando assim: “Olha, que pena que aconteceu isso”. É uma situação grave. Porém, as coisas têm que ser colocadas nos seus devidos lugares. Ele (Arruda) foi vítima de uma chantagem e, consequentemente, sofre os seus efeitos. Da minha parte, buscamos sempre uma postura técnica dentro da Secretaria de Desenvol­­­vimento Urbano e Meio Ambiente. As coisas tiveram uma mudança qualitativa. Hoje a estrutura está toda montada. Criamos e operacionalizamos o Fundo de Desen­­­vol­­­vimento Ur­­­bano, que arrecada re­­­cursos para obras onerosas e que cria uma independência para a secretaria desenvolver os seus projetos. Acredito que fizemos um trabalho muito importante, principalmente no reordenamento do pro­­­cesso de habitação do Distrito Federal. Tínhamos 500 mil pessoas morando em situação irregular, ocupação desordenada de bacias hidrográficas e áreas que não são propícias. Tudo isso foi equacionado.

Olhando para trás, o senhor tomou uma decisão polêmica ao assumir uma secretaria do Distrito Federal e não cumprir o mandato de deputado para o qual tinha sido eleito no Paraná. O senhor se arrepende disso?

Não, absolutamente. Até porque essa decisão foi respaldada pelo di­­­retório nacional do DEM. O Ar­­­ruda foi o único governador do partido eleito em todo o país (em 2006). E, consequentemente, nós fo­­­mos convocados para ajudá-lo a desenvolver o seu plano de trabalho. Essa foi a diretriz. Agora, se de­­­pois aconteceram esses fatos, nós não tivemos nenhuma participação.

A saída do governo foi uma decisão partidária?

Sim, partidária.

O partido pressionou o senhor, chegou a ameaçá-lo com algum processo caso não deixasse o governo?

Acho que é uma questão de lógica. Se eu estava aqui para colaborar com um membro do partido, no momento em que ele deixa de ser membro do partido não tem mais sentido continuar. Afinal de contas, eu tenho alguma experiência. São mais de 40 anos de vida pública. E eu posso auxiliar o DEM em outras áreas e com isso desenvolver também o meu trabalho como deputado. Aí sim defendendo os interesses do estado.

Quando o governador Arruda assumiu, montou um sistema de administração participativo, com todos os secretários trabalhando juntos em uma mesma sala. O senhor não sentia algo que indicasse problemas? Havia algum mal-estar?

Nós trabalhávamos sempre juntos, na mesma sala.

Inclusive o Durval Barbosa (se­­­cretário de Relações Ins­titu­cionais e pivô da crise no DF)?

Não, o Durval não. Pelo menos nunca vi lá. Eram secretários de linha, digamos. Então nós tínhamos sempre essa convivência direta, resolvendo problemas. O tempo de conhecimento das várias unidades administrativas foi extremamente abreviado em função dessa montagem do sistema de gestão. Foi extremamente positivo. Essa pessoa (Dur­­val), que acabou virando be­­neficiário de uma delação pre­­miada, nunca participou desse trabalho.

O senhor está convicto de que foi uma chantagem que durou todo o governo?

Eu não sei, porque eu cuidava da minha área e obviamente tinha interface com várias unidades que compunham a gestão administrativa do DF. Mas nunca, dentro desse processo, sabia se tinha chantagem. Isso não me competia ver. Nem queria saber se havia esse tipo de coisa.

O senhor teve alguma participação na indicação do Paulo Roberto Barreto Munhoz da Rocha (paranaense filmado supostamente recebendo propina de R$ 20 mil de Durval Barbosa) para a DFTrans?

Não, porque também foi uma indicação partidária. É uma pessoa técnica, que trabalhou comigo, com o Jaime (Lerner). É uma pessoa extremamente correta, que veio trazer a sua colaboração dentro de uma área muito exigida. Ele tem competência suficiente para desenvolver esse trabalho para que se propôs.

O senhor tem opinião formada sobre o que aconteceu com ele?

Não tenho. Não vi o vídeo e o que sei são notícias de jornais. Mas posso assegurar que, quando trabalhou com Jaime Lerner e comigo, teve uma conduta absolutamente irrepreensível.

O senhor foi consultado para avalizar a indicação dele?

Não, o partido é independente para fazer suas escolhas. Eu tinha sim contatos profissionais com ele. Do tipo, tal linha (de ônibus) vai daqui até lá. Coisas absolutamente técnicas.

Sobre política nacional, qual será a reação do DEM daqui para frente?

A posição do DEM já foi tomada. Não há mais o que discutir.

O senhor foi favorável à postura do partido em relação ao governador Arruda?

Eu fazia parte da equipe, portanto não podia tomar partido nessa questão. Mas eu acho que, pelo fato de ele pertencer ao partido, mereceria uma oportunidade melhor para se defender.

O senhor acha que ele merecia mais tempo?

Em oito dias não dá para se defender adequadamente.

O senhor torce para que ele termine o mandato?

Sem dúvida. Ele vem realizando um trabalho extraordinário. Brasília, nos últimos 10, 12 anos, foi vilipendiada. Foi praticamente descaracterizada do ponto de vista urbano.

O que o senhor pretende para a própria carreira? 2009 é ano de eleição.

Isso eu vou decidir no momento oportuno. Tenho dentro desses 40 anos de vida pública um capital de conhecimento, de contribuição à sociedade como um todo. Nesse aspecto cumpri bem a minha missão.

Fonte: http://www.esmaelmorais.com.br/?p=16979#more-16979

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